18/09/2015

Brasil Central - 23 dias: Chapada Diamantina (3/4)

Neste giro pelo Brasil Central, não poderia perder a oportunidade de passar num dos mais belos lugares do país: a Chapada Diamantina. Foram somente 3 dias trilhando por lá, mas se tivesse sido apenas 1 já teria valido a pena. Hora de retornar a segunda cachoeira mais alta do Brasil, a da Fumaça; e de conhecer o Poço do Gavião e a Cachoeira do Buracão.


  • 14-17 CHAPADA DIAMANTINA

14º dia: Da divisa com o Piauí até a Chapada

Depois de 13 noites voltei a dormir em uma cama. Faz diferença o negócio!

Saí cedo de Formosa do Rio Preto, tinha mais de 600km pela frente, até chegar ao Vale do Capão (a.k.a. Caeté-Açu), vila pertencente ao município de Palmeiras-BA. Desci a BR-135 Sul até Barreiras, de lá peguei a BR-242 sentido Salvador. Pelo caminho cruzei com vários outros motociclistas e grupos de motos, mais tarde fiquei sabendo que houve um encontro em Brasília.

O almoço foi quase nas margens do rio São Francisco, em Ibotirama. Seguindo pela BR-242, pouco a pouco, pude visualizar as serras da Chapada se aproximando. De repente aquelas retas infinitas da depressão Sanfranciscana se tornam aclives e declives com curvas acentuadas. Numa dessas cruzei com um caminhão que fazia uma curva metade na sua faixa, metade na contra-mão. Ah, se eu estivesse distraído por ali…


Cheguei em Palmeiras por volta de 16h30, acredito. Tinha mais alguns quilômetros por terra até o Vale. O tempo na Chapada Diamantina estava mais fechado, com muitas nuvens. Aquele lugar não tem estações secas e chuvosas bem definidas, é um destino pra qualquer época do ano. A estrada entre Palmeiras e o Vale do Capão estava bem ruim, pior que ano passado. Muitos buracos e pedras soltas.

No fim da tarde já estava no camping do Gorgulho. Pra mim é o melhor lugar pra ficar por lá. Boa área gramada (embora grande parte dela seja dura), banheiros, chuveiros elétricos, tomadas, cozinha comunitária, tanques para lavar coisas… Tudo isso por R$15 a diária. E ainda fica um pouquinho afastado da praça central, uns 900m. Ou seja, mais sossego!

Depois de ajeitar as coisas e tomar um belo banho, fui até a praça central para comer o famoso pastel de palmito de jaca. Não é ruim, nem bom. Achei meio sem sal, talvez com um queijo ou uma pimenta mais saborosa fique melhor. Nesses tempos de gourmetização, fica a dica gastrô da Chapada.

15º dia: Poço do Gavião
Disponível no Wikiloc.

Durante a noite garoou e fez um friozim bom. O dia amanheceu bem fechado, com o Sol dando o ar da graça aos poucos. Antes de iniciar a viagem (e até certo momento durante) tinha a intenção de fazer uma caminhada até o Morrão e o poço de Águas Claras neste dia. O cansaço da viagem e algum desânimo por não ter companhia pros 26km de ida e volta me fizeram repensar essa trilha. Decidi, então, tirar o dia pra conhecer o Poço do Gavião.

A trilha até o poço tem aproximadamente 6km (só ida), desde o centro da vila. A dificuldade é moderada, exige um maior esforço físico que técnico. Em dias ensolarados é bom caprichar no protetor e na água, pouquíssima sombra pelo caminho. Saindo da praça central é só seguir para a cachoeira Rodas e Rio Preto, acredito que todo mundo por lá deve conhecer.

No fim da rua, quando começa a trilha, há uma área de estacionamento com algumas árvores. Uma trilha segue rumando para uma das serras que escondem o Vale do Capão, logo começa uma subida que leva até o patamar mais elevado desta serra. Lá de cima uma bela vista da vila e da Serra do Sincorá. Mais algum sobe e desce por campos rupestres até aparecer o vale do Rio Preto, daí é só descida até o poço. No caminho existem dois pontos de água, que estão na metade final da trilha.


Da descida final ao poço é possível ver algumas casinhas, na serra do outro lado do rio. Achei o poço bem reservado, se bem que era final de alta temporada e o Capão estava um pouco vazio. Durante a trilha encontrei somente um francês, que estava voltando enquanto eu encarava a primeira subida. A trilha tem algumas erradas (duas ou três), que podem confundir e levar o vivente pra lugares mais distantes, longe do objetivo desejado, mas não é tão complicado se orientar lá em cima.

Depois de um mergulho nas águas escuras do Rio Preto (mais escuras que as do Cipó), um cochilo na sombra. Na volta parei em um mirante para a Serra do Sincorá e para o Vale do Capão, ali fiquei pensando o quão massa seria ver o por do Sol na volta da Cachoeira da Fumaça. De volta ao camping, foi só descansar para, no outro dia, retornar a segunda cachoeira mais alta do Brasil.

16º dia: Cachoeira da Fumaça

Mais uma vez choveu durante a noite e o friozinho se fez presente. Deu pra dormir bem. O dia amanheceu mais fechado que o anterior. Para subir até o alto da Cachoeira da Fumaça tanto faz se é Sol ou chuva. Aliás, com chuva, é capaz da queda d’água ser até mais bonita. Com base nisso me animei pra encarar os 6km até o topo da cachoeira.

Fui caminhando do camping até a Associação de Condutores do Vale do Capão, lá assinei um livro e comecei a subida. Não lembrava que aqueles primeiros quilômetros eram tão extenuantes. Parei algumas vezes durante a subida. Eram os 16 dias na estrada pesando. Não encontrei com ninguém pelo caminho, cheguei lá no topo e era só eu. Curti um bocado a vista, os passarinhos e o vento incessante lá de cima. Logo chegou o senhor que vende refri e pastel lá no alto, esqueci o nome dele! Conversamos um pouco e logo iam chegando grupos e mais grupos. Como teria que almoçar e seguir pra Ibicoara, comecei a descer ainda cedo. No caminho de volta muitos outros grupos subindo.

De volta a vila fui até a praça central para almoçar. Retornei ao restaurante onde tinha almoçado no ano passado. O prato do dia era costelinha com tropeiro. Para minha surpresa o tropeiro de lá era com feijão branco e sem farinha, que vinha separada para o vivente poder servir à vontade.



De pandu cheio, voltei ao camping para arrumar minhas coisas. Saí um pouco mais tarde do que esperava, ainda tinha mais de 150km de estrada, grande parte na terra. Fiz o mesmo caminho do último ano, cruzando a borda ocidental da Serra do Sincorá, passando por Guiné. A estrada até lá estava mais ruim que boa. Depois de Guiné fica bem melhor, em alguns trechos a terra batida se assemelha ao asfalto. De longe via a chuva avançando em minha direção. Chegando no asfalto consegui me afastar dela, mas nos encontramos no trevo que dá acesso a Ibicoara.

Cheguei a Ibicoara no começo da noite, sob uma chuva fina e seu frio característico. De cara fui para o “escritório” do guia João. Ele me falou que não encontraria camping por lá, o que já esperava, mas que poderia conseguir algo nos povoados, no caminho para a cachoeira Buracão. Então peguei a estrada que leva para a cachoeira. A combinaçao frio + chuva + estrada ruim + noite resultou em andar só de primeira ou segunda. Avancei lentamente até chegar ao povoado de Mundo Novo, que conta com alguns alambiques e seu cheiro característico. Lá perguntei por um camping e chamaram o Joelder, que também é guia, ele me indicou um lugar para acampar, perto dali. Era o sítio da Miroca, pessoa muito simpática e aberta que administrava o restaurante Mandioca, a algumas centenas de metros dali.

Retornei pela estrada até encontrar a placa que indicava o restaurante. Entrei por uma estradinha vicinal, margeada por bananeiras e sem enxergar qualquer sinal de vida (é bem verdade que não enxergava muita coisa). Avistei a placa de um tal Sítio Mundo Alegre e entrei pela porteira. Lá dentro um rapaz me perguntou o que queria e contei a história toda, ele foi chamar a Miroca, que logo apareceu. Recontei a história e ela falou que poderia ficar lá numa boa. Mostrou onde poderia montar a barraca, mas depois falou que poderia dormir no quarto junto com o cozinheiro e um francês, pois havia um colchão livre. Imagina se vou montar barraca naquele friozinho com garoa. Conheci Morris, o francês, e fui tratar de me apresentar ao colchão.

17º dia: Cachoeira Buracão

Seguindo as dicas do pessoal, levantei cedo, tomei café e fui direto para a portaria do Parque Municipal do Espalhado, onde fica a cachoeira Buracão. O bom de ficar lá na Miroca é que estava mais ou menos no meio do caminho da estrada de terra, sem falar que o sítio lá é bem aconchegante e o pessoal bem de boa.

Por volta de 8h00 cheguei na portaria do Parque e lá fiquei esperando o primeiro grupo com guia aparecer. Esse método não falha, ainda mais que estávamos no fim da alta temporada. Todo dia tem gente indo pra lá. Só não é tão fácil como imaginei, fiquei um bocado lá esperando algum grupo aparecer, devia ter colocado um livro na bolsa.

Depois de 1h30 esperando apareceu um grupo com o guia João. Era um casal de cariocas com filha pequena, eles moravam em Caetité-BA e o carro tinha placa de BH-MG. Sem problemas consegui me infiltrar no grupo, paguei R$6 pelo ingresso, mais R$30 pela guiada do João.

Da portaria anda-se mais um bocado por estrada de terra. Fiquei com a impressão que as estradas de dentro do parque são melhores, com menos buracos. No meio do caminho tem um rio para cruzar, sobre uma laje. Aqui o guia faz seu trabalho e indica o melhor caminho pra passar. A laje tem alguns desníveis/buracos, um deles acertei na volta, então é bom passar na boa. Na ida foi tranquilo, passei pelo caminho certo e a moto não fez nem menção de escorregar no lajeado. Depois do rio mais um trecho de terra, com um pouquinho de areia, até chegar ao estacionamento, que oferece boa sombra.

Do estacionamento a até a cachoeira são aproximadamente 3km de trilha, quase sempre margeando de perto o rio Espalhado. Diria que 85% da trilha é plana, desnível acentuado só na parte final, trecho em que entramos no cânion, a jusante da cachoeira. Durante o percurso passamos por várias cachoeiras, como a do Buraquinho e a das Orquídeas, que é a mais atrativo pro banho.


Descendo pelo cânion, há algumas escadas feitas pelo pessoal do parque para facilitar o acesso. Passamos por uma cachoeira sem poço, cuja água desaparece sob as pedras. Quase chegando ao rio que forma a Buracão, há uma espécie de varal com dezenas de coletes salva-vidas. Escolhi o meu e logo estávamos dentro do cânion da cachoeira.

No cânion são duas opções, ir nadando contra a corrente (melhor alternativa de longe!) ou ir pelas pedras. A correnteza nem é assim tão forte, dá pra ir nadando de boa e se segurando nas pedras, quando o cansaço apertar. E ainda tem o colete para ajudar. Como fomos o primeiro grupo a chegar na parte baixa, fui o primeiro a pular na água e também o primeiro a chegar na cachoeira. O lugar é incrível, sem palavras pra descrever, só estando lá mesmo.

Depois de nadar bastante pelo poço e ficar debaixo da queda, decidi sentar nas pedras só para contemplar. Aí não tem jeito, como disse o João, o lugar parece uma geladeira. Aquele spray de água proveniente da queda de 85m + o vento + falta de Sol = um bocado de frio. Não dá pra ficar por lá muito tempo mesmo, a não ser que você vá pelas pedras e lembre de levar uma camisa. Logo muitos grupos chegaram e foram embora, inclusive o meu. Enrolei um pouco mas depois segui nadando até a parte próxima aos coletes, onde ficaram nossas coisas. Depois de alguns saltos pra água, era hora de fazer o caminho da volta.
Cheguei na Miroca no começo da tarde e fui almoçar no restaurante dela. Aliás, a única “despesa” que tive na Miroca foi com a refeição, as dormidas lá foram 0800, até porque ela está construindo uma estrutura para receber futuros visitantes. Almoço bem bom, diga-se de passagem e com um preço justo, 15 pratas.


Depois do almoço rolou um belo cochilo em um banco de madeira que balança. A noite a galera toda que estava lá se reuniu na casa pra ver uns filmes. Depois de terminado o primeiro, me despedi do pessoal e fui tratar de dormir, teria que acordar bem cedo no outro dia pra fazer o caminho da roça até Bocaiúva,literalmente, e eram mais de 700km.

DICAS E INFOS:
Chapada Diamantina é o paraíso para montanhistas. Comparada com outras regiões turísticas do país, a Chapada é um local relativamente barato. Os atrativos da região estão espalhados pelo entorno e ônibus interligando as cidades praticamente não existem. Para não cair no preço abusivo das agências de turismo, o melhor é ir de carro ou alugar um. Se vier de Salvador, opte por alugar um carro na capital, sai mais em conta.

A maior parte dos locais dá pra ir sem guia, principalmente os que ficam em propriedade privada. Para as trilhas, se não tiver GPS, o ideal é conseguir informação com os locais e pela internet também, muitas são de fácil orientação. Alguns guias do Vale do Capão (talvez de outras cidades também) não gostam de dar muita informação para o visitante, fique atento a isso e não caia no papo deles. Se a prioridade for trekking, o melhor local da Chapada, a meu ver, é o Vale do Capão. Além do fácil acesso às trilhas do Pati, tem as trilhas para cachoeiras mais próximas do povoado, todas gratuitas.

TOTAL DE GASTOS:
Gasolina: 238,29$
Hospedagem: 30$
Alimentação: 110,19$
Ingressos: 36$
TOTAL: 414,48$

COMO CHEGAR:
A região da Chapada Diamantina está no centro do estado da Bahia, a capital mais próxima é Salvador, a 430km de distância. A cidade referência da Chapada é Lençois, mas todas as outras cidades possuem infraestrutura para receber os turistas, como Mucugê, Palmeiras, Ibicoara, Andaraí e povoados como Guiné e Caeté-Açu (Vale do Capão). O Parque Nacional abrange uma extensa área da região, mas não possui qualquer infraestrutura para receber visitantes. As principais rodovias que dão acesso à região são a BR-242, com muito movimento de carretas e caminhões, e a BA-142. A cidade de Lençois possui aeroporto com voos comerciais regulares.

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