21/11/2016

Conselheiro Mata (Diamantina-MG)


Na borda oeste do Espinhaço central está o povoado de Conselheiro Mata, um pequeno distrito de Diamantina dono de belas paisagens e cachoeiras. No final de outubro a Giu e eu recebemos um convite para passar um final de semana lá, acampados no Telésforo. Aproveitamos a oportunidade pra retornar a Cachoeira das Fadas, explorar um pouco a região e, por que não, fazer uma postagem sobre mais um cantinho do Espinhaço mineiro.

1º dia: Cachoeira das Fadas e Telésforo
Disponível no Wikiloc: Cachoeira das Fadas e Telésforo

Saímos de Belo Horizonte na noite anterior e paramos em Corinto, também conhecida como terra do meu vô (rs), a cerca de 210km da capital. Acordamos por volta das 7h, arrumamos rapidamente as coisas (a maior parte delas ficou dentro do carro) e fomos a Bel-Pão tomar um café. Deixamos a padaria por volta das 8h e partimos para Conselheiro Mata, que fica a 68km de lá. O trajeto é feito pela rodovia estadual MG-220, que em alguns trechos aproveita o antigo ramal ferroviário Corinto-Diamantina. Aliás, é interessante notar que todas as cidades pelo caminho ainda conservam suas respectivas estações ferroviárias.

São 45km de pouco movimento, e com direito a uma ponte treliçada sobre o Rio das Velhas, até Monjolos, onde termina o trecho asfaltado. Logo após Monjolos cruzamos o Rio Pardo Pequeno (a.k.a. Pardinho) e começamos a subir, já bem próximos da borda do Espinhaço. Saindo do asfalto pegamos um pequeno comboio. Carros cheios, caminhonete carregada, ficamos imaginando se aquele povo todo não estava se deslocando para o Telésforo (e torcendo pra que não...).

Passamos pelo povoado de Rodeador e, definitivamente, estávamos subindo pela borda oeste do Espinhaço. E pensar que no começo do dia aquela cordilheira parecia tão distante… De Monjolos a Conselheiro Mata são 24km por estrada de terra, que geralmente está em boas condições. Alguns buracos e costelas de vaca também fazem parte do caminho. Nas proximidades de Conselheiro Mata, depois de atingirmos o ponto mais alto, em alguns momentos conseguimos visualizar o cânion da Cachoeira das Fadas, formada pelo Córrego do Açougue (IBGE).


Atualmente (até novembro/2016) a ponte principal de Conselheiro Mata, sobre o Ribeirão das Varas, está interditada para reforma. O desvio está sendo feito por uma pequena ponte acima da principal. Por esse motivo o tráfego de veículos pesados está restrito, mas para carros, motos e vans está tranquilo. Desde Monjolos existem alguns placas informando da situação da ponte.

Cruzamos a ponte provisória e fomos seguindo pela principal (e única) até a Igreja, com flamboyants floridos cobrindo nosso caminho. A rua principal é calçada por pedras, mas parecem que cada uma foi posta de um jeito, o que transforma a passagem por ali em um martírio. Após o cemitério entramos à esquerda, sentido Cachoeira das Fadas. Detalhe que não há sinalização alguma no local.

A cerca de 200 metros da igreja há um mata-burro e uma porteira fechada, mas destrancada. Abrimos, passamos, fechamos e seguimos pela estradinha. Mais a frente uma parte do caminho foi levada pela água há algum tempo. Observe a sua direita, o desvio está sendo feito por lá, próximo a um pequeno bambuzal. Passamos em frente a uma antiga (imagino) construção, que até hoje não sei do que se trata. Mais um pouco pela estradinha e há um grande descampado a nossa direita, que pode servir como estacionamento para quem vai com carro de passeio. Como estávamos num 4x4 seguimos pela trilha, que agora tem uma bela vala bem no meio. Desembarcamos no fim da linha, onde começa a caminhada, que é bem breve.

Da igreja até a cachoeira são 1.170 metros, marcados no GPS. Deixando o carro no fim da estradinha, a caminha é de apenas 170 metros até a cachoeira, por uma trilha bem batida e sombreada. O trecho final é uma descida bem forte até o poço, que requer um pouco de atenção com raízes e pedras escorregadias.

A Cachoeira das Fadas é formada pelo Córrego do Açougue, que após essa queda se encontra com o Ribeirão das Varas, a cachoeira fica no fundo de um cânion. Diferente da maioria das cachoeiras do Espinhaço, a água aqui é clara com um tom ligeiramente esverdeado. O poço é médio e tem boa profundidade, local é ótimo para o banho e também é possível observar o fundo do poço com a ajuda de um óculos de mergulho. Durante o verão o Sol incide direto no poço e as águas ficam com temperatura agradável. Durante o inverno o Sol ilumina mal o local e as águas ficam frias (de doer). Embora esteja bem próximo ao distrito, o local está razoavelmente bem conservado, desta última vez encontramos apenas pequenas embalagens “esquecidas” no local.


Depois de curtir um pouco o local, mesmo com o tempo fechado, voltamos ao carro e partimos para a Cachoeira do Telésforo. Saindo de Conselheiro Mata basta seguir para Diamantina, a cerca de 1,7km da igreja há uma estradinha saindo à esquerda da principal e uma placa amarela bem mirradinha sinalizando para o Telésforo. Para quem está com carro baixo a recomendação é NÃO entrar por este caminho. Siga mais um pouco pelo estradão e entre na próxima a esquerda, quando estiver no meio de uns eucaliptos. A primeira opção é uma subida forte, com alguns pontos bem judiados que podem barrar os carros 4x2. Pela segunda opção a estrada também é ruim, mas a inclinação é menor. Superada a subida inicial, o relevo fica suave até a cachoeira. Existe somente uma bifurcação importante na estrada, que leva a uma PCH, se não me engano. Embora o caminho não esteja sinalizado para o Telésforo, logo após a bifurcação tem a primeira porteira da fazenda. A segunda porteira fica logo na sequência, 1km depois. Nela é feita a cobrança do ingresso. Em novembro/2016 era cobrada uma taxa de 10$ por pessoa e 50$ por carro a pernoite.


Da segunda porteira até a cachoeira são 4,3km, por uma estrada tranquila para qualquer tipo de veículo. Nos meses de cheia, entre dezembro e fevereiro, a depender da chuva, o Córrego Batatal, um dos afluentes do Rio Pardo Grande, inunda uma área a cerca de 3km de cachoeira. Neste período somente 4x4 e motos conseguem passar, dependendo também do nível da água. Passado o córrego começa um trecho mais arenoso da estrada, aqui o visitante deve tomar cuidado com as erosões, sempre há um desvio.

A Cachoeira do Telésforo é o final de uma sequência de quedas do Rio Pardo Grande, que forma uma extensa praia de areia branca. O rio é raso em diversos pontos, com exceção do trecho próximo a queda. A correnteza é fraca, então é possível se banhar com tranquilidade.

Armamos a barraca debaixo de uma pequena árvore, a uns 100 metros da cachoeira. Aproveitamos um pouco o local, no meio (já pro fim) começou a cair uma chuva que persistiu até o início da noite. Pouco conseguimos ver do céu noturno, já que estava bem nebuloso.

2º dia: Cachoeira Batatal
Disponível no Wikiloc.

O dia não amanheceu muito legal, ainda permanecia bem nublado. Tomamos café e tratamos de arrumar nossas coisas, para tentar explorar um pouco da região. Nosso destino era a cachoeira do Córrego Batatal, nas proximidades de um povoado homônimo a cerca de 37km do Telésforo.


Na estradinha, pegamos o atalho pelos eucaliptos, interceptando a MG-220 mais a frente. O trecho está judiado em diversos pontos, mas ainda é tranquilo para veículos de passeio. Enquanto avançávamos em direção a borda leste do Espinhaço o Sol ganhava mais força no céu. Entramos no acesso para Batatal, que está sinalizado. 3km adiante estava o povoado, com cara de fim de festa. Parece que na noite anterior teve algum evento na cidade, havia muitos copos e latas espalhados e os sobreviventes se aglomeravam nos poucos bares da localidade. Seguimos a estrada principal direto, as casas agora ficavam cada vez mais espaçadas. Abrimos e fechamos algumas porteiras e pegamos a esquerda em uma bifurcação. A placa sinalizava que o caminho da direita levava ao Buriti do Cláudio, é também a estrada que atravessa o Rio Pardo Grande, umas das rotas offroad que tenho em mente pro futuro.

Seguimos de carro até uma porteira trancada com cadeado, a cerca de 900 metros da cachoeira, o jeito era seguir a pé. À direita havia uma passagem para cavaleiros, que também era possível passar de moto. Calçamos as botas e fomos descendo pela estradinha. Quando chegávamos a primeira bifurcação começamos a ouvir barulho de motos subindo. Rapidamente apareceram duas motos de trilha, o pessoal nos cumprimentou e seguiu seu caminho. Seguimos o nosso, para baixo. Mais um pouco e encontramos as ruínas de uma construção, logo após entramos à direita e fomos descendo por uma laje, entrando numa trilha na sequência. Desde o alto tínhamos o visual da cachoeira, alta e com boa vazão.

Próximo a cachoeira havia uma construção, provavelmente o que sobrou de uma casa de bombas. A trilha seguia em direção a ela. Dei uma olhada rápida no local e percebi um fogão a lenha, com lenha no fogo. Também havia alguns pertences por lá. Ninguém apareceu, mas também não procuramos muito. Voltamos e descemos pelas pedras direção ao córrego Batatal.

A cachoeira do córrego Batatal é uma típica queda do Espinhaço, relativamente alta, com poço grande e águas escuras. As rochas do poço tinham uma camada de lodo, o que não nos animou muito para um mergulho. Resolvemos nos banhar no leito do rio, um ponto mais raso de água corrente. Ainda assim havia muito lodo sedimentado, que se espalhava quando nos movimentávamos.


Depois de um refresco do Sol que, enfim, apareceu, juntamos nossas coisas e tomamos o caminho de volta ao carro. Embora só subida, a volta foi bem rápida. Por volta de 14h deixamos o povoado de Batatal com destino Belo Horizonte. Como já estávamos próximos a Diamantina, voltamos pela BR-367e 259 até Curvelo, uma das rodovias mais cênicas de Minas Gerais. Em um primeiro momento tínhamos ao redor os campos rupestres e afloramentos rochosos da Serra do Espinhaço. Depois enfrentamos o sinuoso trecho em direção ao fundo do vale do rio Paraúna, tendo a imensidão do sertão/cerrado a nossa frente.

DICAS E INFOS:
Conselheiro Mata é uma boa opção para quem está pelas bandas da região central de Minas Gerais, com belas cachoeiras de fácil acesso (na maior parte do tempo). Como nem tudo são flores, feriados devem ser evitados, principalmente para os que desejam acampar nos arredores da Cachoeira do Telésforo. É um local que recebe muitos visitantes que moram nos arredores, e que nem sempre tem a consciência de recolher todo o lixo gerado. Minha sugestão é: numa eventual folga durante a semana, de preferência nos meses de estiagem (maio a setembro), acampe no Telésforo e aproveite mais essa maravilha do Espinhaço como se tivesse sido feita só pra você.

COMO CHEGAR:
De carro, partindo de Belo Horizonte, siga pela BR-040 para Brasília. Depois de Paraopeba, entre à direita no trevão com a BR-135, sentido Montes Claros. Siga até Corinto pela 135, entrando à direita na MG-220, que leva a Santo Hipólito e Monjolos. Siga pela principal por 69km até Conselheiro Mata.

De ônibus, a viação Pássaro Verde tem uma linha que passa em Conselheiro Mata, muito provavelmente oriunda de Diamantina.

Nenhum comentário:

Postar um comentário