20/06/2017

Santana do Rio Preto - Cabeça de Boi (Itambé do Mato Dentro-MG)

Santana do Rio Preto, mais conhecida como Cabeça de Boi, é mais um daqueles típicos povoados no sopé do Espinhaço. Algumas casinhas, uma igreja ou capela, cachoeiras no entorno, uma vista sensacional e um povo acolhedor. O povoado pertence ao município de Itambé do Mato Dentro, estando a 8km da sede. A ligação é por uma estrada de terra em condições medianas, mas tranquila para qualquer tipo de veículo. Em relação a BH, Cabeça de Boi está a cerca de 125km e há várias formas de acessá-lo (mais informações na guia “como chegar”, no final da postagem).

Devido a costumeira tranquilidade do local, mesmo em feriados prolongados, resolvemos passar o feriado de Corpus Christi por lá para explorar locais menos frequentados e escutar um modão caipira no Boteco do Sô Agostinho (parada mais que obrigatória).

1º dia: BH x Santana do Rio Preto/Cabeça de Boi

A BR-381, saída para o Espírito Santo, tem sua má fama testada e comprovada nos feriados. Traçado sinuoso, movimento intenso de carros, carretas e caminhões, e pista simples! Essa combinação faz com que cada quilômetro rodado seja um sacrifício nos horários de pico. Por conta disso resolvemos sair bem tarde de BH, “perdendo” o dia de feriado. A recompensa foi o trânsito “normal” que pegamos nos 62km que trafegamos pela 381, sem lentidão.

Saímos antes das 15:00 e chegamos a Cabeça de Boi por volta de 17:20, uma viagem que pareceu mais longa que o normal já que estávamos sem som no carro. Estacionamos a viatura um pouco antes do mata-burro, no final da rua principal, ao lado da entrada do único camping do povoado. Saímos em busca do Sr. Laércio, que administra o local e também aluga uma casa para temporada. Acertamos os detalhes e fomos montar a barraca. Em feriados é cobrado 25$ por pessoa, por noite. Em dias normais o valor cai para 20$.

Serra do Lobo encoberta

Mesmo chegando tarde no primeiro dia de feriado, não havia ninguém no camping. O que era bom, já que o local não é muito grande, assim pudemos escolher a melhor área para montar a barraca. O camping possui dois banheiros com água quente, um tanque com duas pias e algumas tomadas espalhadas.

Montado o acampamento, fui apresentar para Giulia o boteco do Sô Agostinho. Local super simples que conta com a presença da figura que é o dono. As comidas/petiscos são as mesmos de sempre: pastel de queijo (no mínimo 4), carne de panela ou linguiça defumada frita; e as cervejas sempre geladas. Numa conversa com Seu Agostinho, enfim, tirei aquela dúvida que pairava na minha cabeça: Santana do Rio Preto ou Cabeça de Boi? Nem a carta do IBGE consegue precisar.

O nome do povoado realmente é Santana do Rio Preto, que também era o nome de uma antiga fazenda da região. Cabeça de Boi é o nome que todo mundo ficou conhecendo, também nome de uma antiga fazenda que ficava no alto da serra. O motivo da mudança de nome Seu Agostinho não soube explicar, já que isso vem antes dele. Ou seja, tanto faz o nome, o fato é que o povoado se popularizou como Cabeça de Boi.

Nosso objetivo principal na primeira noite era ouvir o som da viola do Seu Agostinho e pra isso batalhamos. Só que quando ele ia se preparar pra começar a tocar (ou fazer barulho, como ele mesmo diz), chegava alguém novo no boteco e pedia alguma coisa… rs.

  • Vai tocar hoje?
  • Ah, num toca não… tem uma violinha aí...
  • Vai tocar?
  • Ah, num toco não, faço barulho, né...

"Eu não sei tocar, eu só sei contagiar..."

Depois de vários minutos na expectativa, o som da viola rompeu a quietude do povoado. A primeira foi Calix Bento, pedida por mim, a música que ele estava tocando quando passei por Cabeça de Boi fazendo a Estrada Real. O caipirão comeu solto noite afora e quem estava por lá não pensou duas vezes e parou pra ouvir.

2º dia: Travessia da Serra do Lobo

Com a indicação do Sô Agostinho, na noite anterior procurei o Pedro Henrique, da Pousada Serra do Lobo, que poderia nos levar até o ponto inicial desta pequena travessia. Ficou combinado da gente passar na pousada dele por volta de 8 da manhã, então lá fomos nós.

Lubrininha

Café tomado e mochila preparada, atrasamos um pouco e chegamos na pousada por volta de 8:15, nada mal, já que o tempo estava bem nebuloso, com muita neblina na região. André, filho do Pedro, foi o incumbido de nos levar até o povoado de Mata Grande, a 7km de Cabeça de Boi. A estrada para lá está em condições medianas, trata-se de um aclive muito forte que pode ser complicado para carros de passeio. Gastamos uns 20 minutos para percorrer os 7km e desembarcamos em frente à Escola do povoado às 8:45. Para compensar a viagem, André nos convidou para conhecer a Bitaca, uma espécie de bar/pizzaria/barraquinha que fica bem na entrada de Cabeça de Boi.

Sobre a travessia da Serra do Lobo, farei uma postagem específica dando mais detalhes sobre o trajeto. De uma forma geral, é uma travessia que exige um condicionamento físico razoável, já que as subidas e descidas são constantes. O X da questão nesta travessia é a navegação, já que alguns pontos não possuem trilha e outros estão com o caminho “apagado”, pela falta de uso. Além disso, é preciso “escalaminhar” alguns pontos e o ataque ao Pico Itacolomi pela trilha que vem do sul é complicado, já que a vegetação no trecho escondeu a trilha que de acesso.

Fora a dificuldade na navegação, é uma excelente caminhada, principalmente se o dia estiver aberto. Como o dia amanheceu bem fechado, na primeira metade da rota tivemos o visual comprometido, mas com o passar das horas o tempo abriu e o Sol apareceu, nos presenteando com belos cenários.

São 10,9km de caminhada atravessando a Serra do Lobo, passando pelo Pico Itambé, um pico intermediário sem nome e o Pico Itacolomi. As fontes de água pelo caminho são bem mirradas, então é preciso levar quantidade suficiente para o dia. A trilha termina na estrada entre Itambé e Cabeça de Boi, quase que no meio do caminho. Chegamos por lá às 15:01, depois de 6 horas e 16 minutos de caminhada. Como não combinamos resgate, fomos caminhando de volta para o povoado e conseguimos carona no caminho, com a filha do Sô Agostinho. Nota-se que as caronas devem ser mais fáceis de conseguir em feriados ou em finais de semana. Do ponto final, são cerca de 4,5km até Cabeça de Boi e aproximadamente 5,2km até Itambé.

Serra do Lobo

Chegamos ao povoado 17:37 e fomos direto para o boteco molhar a palavra e comer uns pasteis. Mais tarde, depois do banho, fomos a Bitaca comer pizza, mas por conta de um contratempo que ocorreu durante a semana ficou só na vontade, pra próxima. Fizemos a janta no camping e fomos pra balada, que é sempre no boteco do Seu Agostinho. Desta vez a viola estava descansando, o que rolava era um dueto, o que a Giulia qualificou como sarau, embalando uma noite gelada de outono.

3º dia: Cachoeira dos Macacos e Entancado

O dia amanheceu com céu claro e o Sol brilhando bem de frente pra nossa barraca, espantando o frio da madrugada. Como faríamos somente uma caminhada leve até as cachoeiras do complexo do Entancado, enrolamos um pouco para levantar e tomar café. Enrolamos até um pouco mais, já que o céu aberto deu lugar a várias nuvens.

Depois de arrumar nossas tralhas e a mochila, aproveitamos o retorno do Sol para uma ida ao complexo de cachoeiras que fica a 7km do povoado. Grande parte do trajeto é feita por uma estrada de terra em condições medianas, encurtando o trecho efetivamente caminhado para algo em torno de 1km, a depender da cachoeira escolhida. Em condições normais, qualquer veículo consegue chegar ao início da trilha para as cachoeiras, mas é bom alertar futuros visitantes que há uma travessia de rio bem na saída do povoado. Os motoristas podem ficar um pouco receosos ao chegar na travessia, mas o Córrego Cabeça de Boi é raso e com o leito todo calçado por pedras arredondadas, facilitando a passagem.

Há outras passagens por água no decorrer da rota, mas se você chegou até lá, certamente não terá problemas. Saímos do povoado às 10:34 e depois de 4,9km e 14 minutos chegamos ao ponto onde é feita a cobrança. Pagamos a taxa de 10$ por pessoa e seguimos por mais 1,1km até o ponto de estacionamento para carros. Havia somente um veículo estacionado por lá, coisa boa, então paramos numa das poucas sombras que havia no local.

As porteiras de acesso ao Lajeado e às cachoeiras estão trancadas, mas há uma passagem lateral que pode ser atravessada por bicicletas, cavalos e motos, adiantando um pouco do caminho. Pra gente o jeito foi seguir a pé. Cerca de 250 metros após o estacionamento chegamos ao Rio Preto do Itambé. A trilha para a Cachoeira dos Macacos é, em parte, a mesma da Maçãs, que começa na outra margem do rio. Como o ponto em que o Rio Preto do Itambé e o Córrego do Riacho se encontram é um pouco largo, não dando chance pra cruzarmos sem tirar as botas, decidimos atravessar no ponto em que chegamos ao rio. Tomamos uma trilha à direita do descampado, que se embrenha por uma mata ciliar e vai em direção a uns blocos de rocha que avançam sobre o rio. Em um desses blocos havia um tronco médio apoiado, uma pinguela improviasa. Era nossa deixa. Com a ajuda de uma vara e torcendo para o tronco não rachar no meio, conseguimos atravessar sem nos molhar.

Macacos

Seguimos pela margem esquerda do Rio Preto por pouco tempo, alguns passos depois já estávamos no encontro do Córrego do Riacho. Neste ponto continuamos pela trilha batida que dá acesso à cachoeira das Maçãs, subindo um morro sombreado pela mata ciliar. Ignoramos a primeira saída à esquerda, que é um atalho para o Entancado,  e a segunda também. Quando nos aproximamos de uma placa indicando que o caminho para a Maçãs é à direita, continuamos subindo pela trilha da esquerda.

A subida tem alguns pontos mais inclinados, mas é tranquila. Quando o relevo quase estabiliza uma uma bifurcação aparece, com uma trilha descendo em direção ao córrego. O barulho de água era forte, o que indicava uma queda d’água. Descemos na expectativa, mas só encontramos algumas quedinhas do Córrego do Riacho, acima da Cachoeira das Maçãs. Decidimos retornar à trilha principal, já que o GPS indicava que a cachoeira estava a uns 350 metros de distância dali. Subimos mais um pouco pela trilha principal e percebi um trilho discreto que saía à direita. Descemos um pouco por ele e tivemos o visual da Cachoeira dos Macacos, mas a alegria durou pouco, o rastro de trilha desaparecia e o desnível até o rio indicava que o caminho não seria por ali. Mais uma vez retornamos ao trilho principal e continuamos subindo. Alguma centena de metros depois percebemos que a trilha estava se afastando da cachoeira, além de parece pouco utilizada. Então decidimos retornar ao ponto de acesso ao Córrego do Riacho e subir o rio pelo leito.

Ao longo do leito do Córrego do Riacho há muitas rochas amontoadas nas margens e diversos lajeados por onde a água escorre, o que facilita a caminhada por lá. Fomos avançando pelo leito sem molhar os pés até o ponto em que um pequeno poço surge. Do lado direito uma parece, do esquerdo a mata ciliar bem fechada. Como o poço era raso e com leito regular, tiramos a bota e continuamos o restante a pé. Não tivemos dificuldade para cruzar o pequeno poço nem para terminar o aquatrekking.

São cerca de 480 metros pelo leito do córrego até a Cachoeira dos Macacos, esta parte do trajeto é feita sem dificuldades em cerca de 12 minutos. A cachoeira fica no fundo de um pequeno cânion, local belíssimo. Os poços próximos a queda são pequenos e rasos. Mais pra baixo, próximo a curva do rio, há um poço médio com boa profundidade, ótimo para o banho. Como o local se assemelha a um cânion, a luz do Sol não costuma ser abundante. O ideal é estar por lá próximo ao meio-dia, mais ou menos o horário que chegamos. A caminhada até a Cachoeira dos Macacos tem cerca de 2km de extensão.

Não havia ninguém por lá, como o esperado. Depois de aproveitar um pouco das águas geladas, decidimos retornar para um banho final no Entancado. Na volta cruzamos com um grupo de 4 pessoas que estava finalizando a parte de aquatrekking. Na descida para o Entancado, cruzamos umas 15 pessoas ou mais que estavam indo em direção à Maçãs. Sorte nossa, já que quando chegamos ao Entancado não havia quase ninguém por lá.

O Entancado é um poço de tamanho pequeno-médio, com profundidade variada, mas com várias partes que dão pé. A queda é forte, tornando difícil e perigosa a tarefa de se aproximar da cachoeira. Também é possível subir a parte seca da cachoeira para conhecer o topo da queda, um remanso do Rio Preto do Itambé. O local é bem aberto então bate Sol em boa parte do dia.

Entancado

Depois de um bom banho de cachoeira, resolvemos encerrar nossa passagem por Cabeça de Boi. Saindo um dia antes evitaríamos aquele trânsito pesado da volta do feriadão. De volta ao camping almoçamos e arrumamos nossas coisas. Nossa última tarefa seria decidir se passaríamos ou não em Serra dos Alves, onde aconteceria uma festa junina; mas como a festa só começava às 19h, optamos por retornar direto pra BH. Pra compensar nossa escolha de retornar direto, que não foi fácil, agendamos nosso retorno a Cabeça de Boi pro próximo mês, pra acompanhar a festa julhina do povoado. Anarriê!

COMO CHEGAR:

De carro, tendo como ponto de partida, o viajante possui três opções “rápidas” para chegar a Santana do Rio Preto/Cabeça de Boi. O caminho mais curto, com cerca de 120km, é também o mais belo e com maior trecho de terra. Ele sai de BH pela BR-381 e segue por ela até a entrada para Bom Jesus do Amparo, de lá continua pela Estrada Real até o distrito de Senhora do Carmo (15km de terra + asfalto), de onde pega uma estrada de terra que passa pelo povoado de Mata Grande. É o trecho mais bonito pelo visual que se tem chegando ao povoado, uma estrada entre a Serra do Espinhaço e a Serra do Lobo. Este trecho possui sinalização razoável e a estrada entre Mata Grande e Cabeça de Boi está em condições medianas. A volta por este caminho é mais difícil para carros de passeio. Esta primeira opção é recomendada para quem gosta de dirigir por estradas de terra.

A segunda opção é um pouco mais longa que a primeira, cerca de 9km, e pega um pouco menos de terra, mas também conta com um belo visual. O trajeto é o mesmo que o primeiro até o distrito de Senhora do Carmo, de lá o viajante continua pela Estrada Real até Itambé do Mato Dentro, o trecho está asfaltado. De Itambém a Cabeça de Boi são cerca de 9km por uma estrada de terra em condições medianas e muito sinuosa, com aclives e declives acentuados.

A terceira opção preza pelo asfalto, mas o caminho fica bem mais longo, com cerca de 165km. Para pegar o mínimo de terra o viajante precisa seguir para Itabira (BR-381 e MG-434), de lá pegar rodovia para o distrito de Senhora do Carmo, deste para Itambé do Mato Dentro e, por fim, os 9km de terra até Cabeça de Boi.

De transporte coletivo, a única opção é pegar os ônibus da Viação Saritur para Itambé do Mato Dentro, que possui poucos horários. Chegando a Itambé, o viajante deve pegar um táxi para Cabeça de Boi, arrumar uma carona ou seguir a pé.

DICAS E INFOS:

Como todos os povoados ao redor do Espinhaço, Santana do Rio Preto/Cabeça de Boi possui sua peculiaridades, respeite a cultura local;

Sinal de celular é uma coisa rara na região, mas o povoado possui orelhão e algumas pousadas possuem internet;

Por conta conta disso, leve dinheiro suficiente para os dias que for passar na região, a não ser que queira visitar as agências bancárias de Itambé. A maioria ou todos estabelecimentos (que não são muitos) não aceitam cartão;

O povoado conta com alguns bares/botecos, um restaurante e outros estabelecimentos menores. As opções para a noite são escassas. Se tiver pensando em passar uns dias por lá, não deixe para comprar mantimentos no povoado. Agora, se você se esqueceu de algo, o Seu Agostinho pode te ajudar;

Somente um camping no povoado: R$20/noite/pessoa em dias normais e R$25 em feriados;

Cabeça de Boi tem mais a oferecer que a Cachoeira do Entancado e a das Maçãs, explore!


E não deixe de passar no bar do Seu Agostinho!

11 comentários:

  1. Excelente descrição. Uma pena as pessoas lerem e não comentarem.

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    1. Hoje em dia tá difícil as pessoas lerem rs. Obrigado pelo comentário, bons ventos!

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    2. Tem algum contato no camping.
      Queria saber se esta funcionando ou se a Cidade esta fechada p turista.
      Pretendo ir sozinha em dezembro. Sempre quis conhecer "cabeça de boi"

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  2. Adorei seu post!! Muito bem explicado e com ótimas informações. Vou salvar para consultá lo quando passar a pandemia...quero conhecer este lugar!Grata!

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    1. Obrigado, Marcia! Cabeça de Boi é um lugar fantástico, não perde por esperar!

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  3. Deu até vontade de aventurar um passeio desse!

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  4. Belo trabalho.
    Será meu próximo passeio de férias, só espero que essa lei marcial opressora não impeça das pousadas da região de funcionarem normalmente.

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  5. Olá! vc teria o contato do camping? Obrigado

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    1. Olá Fagner, não possuo o contato do camping, porém nunca agendei nada lá também. Era só chegar.

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  6. Gostei muito da descrição, uma das mais completas que tive acesso!

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  7. olá, é possível ir com criança na cachoeira?

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